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Na zona sul do Rio de Janeiro, bairro do Leblon, três artérias importantes concorrem praticamente num ponto, a saber, Av. Delfim Moreira, Ruas Epitácio Pessoa e Afrânio de Melo Franco.


Tratando-se de três personagens da História do Brasil, haverá algum elo entre os três nomes citados?

Senão vejamos. Na eleição para Presidente da República de 1918, realizada em março do mesmo ano, foi eleito Rodrigues Alves (tendo como vice Delfim Moreira), que já exercera a presidência no período 1902-1906, tendo deixado uma marca importante na história da cidade (abertura da Av. Rio Branco, Av. Passos, Francisco Bicalho, entre outras).

Eis que antes da posse, que só se daria em 15/11/1918, Rodrigues Alves adoeceu com a epidemia que se espalhava praticamente por todo o mundo, a denominada "gripe espanhola", aparentemente um mal surgido na Europa logo após o final da chamada Grande Guerra (1914-1918), donde o nome.

O ministério de Rodrigues Alves já estava escolhido (a exemplo de Tancredo Neves em 1986). Chegou o dia da posse e este impossibilitado de assumir, a solução normal seria a assunção do vice. Só então os políticos se deram conta de que Delfim Moreira não estava bem de saúde; na realidade ele sofria das faculdades mentais. O que fazer?

Como todos esperavam que Rodrigues Alves logo pudesse assumir a presidência, resolveram ocultar a doença do Delfim e decidiram que o Ministro da Viação, Afrânio de Melo Franco, escolhido por Rodrigues Alves, tomaria conta dos assuntos presidenciais, cabendo a Delfim Moreira apenas apor a sua assinatura.

Assim foi feito, porém,   após a posse de Delfim Moreira, Rodrigues Alves faleceu e, de acordo com a Constituição de 1891, deveria ser convocada nova eleição já que a vacância ocorrera na primeira metade do mandato.

Candidataram-se ao cargo Epitácio Pessoa e Ruy Barbosa. Este último defendia a tese de que Epitácio não teria condições de ocupar a presidência já que se aposentou por invalidez como Ministro do Supremo Tribunal. Sua tese não foi considerada e Ruy Barbosa foi derrotado na segunda e última tentativa (a primeira foi em 1910) de alcançar a presidência (Ruy viria a falecer em 1923). Epitácio Pessoa foi eleito para completar o período 1919-1922 (restante do mandato).

Um episódio marcante no período governado por Epitácio foi que ele escolheu para Ministro da Guerra um civil, o engenheiro João Pandiá Calógeras, cuja atuação como Ministro foi considerada excelente. Em homenagem a este, o centro do Rio ganhou a Av. Calógeras. Também a esposa de Epitácio, Mary Pessoa, foi homenageada com o seu nome em uma rua da Gávea.

Logo depois de deixar o cargo que estava exercendo, embora simbolicamente pelas razões apontadas, Delfim Moreira faleceu, sem dúvida pelo agravamento de seu estado precário de saúde.

Fica a pergunta. Será que o responsável pelo setor de nomenclatura de logradouros da cidade do Rio de Janeiro achou por bem brincar com a história, reunindo numa mesma área aqueles três personagens, Delfim Moreira, Afrânio de Melo Franco e Epitácio Pessoa? Ou foi simplesmente coincidência? Fica a critério de cada um opinar.

Nota: Algumas das informações aqui apresentadas foram obtidas junto ao neto de Epitácio Pessoa, colega de turma, na escola de engenharia, do autor destas linhas.