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Entrevista realizada em 24 de junho de 2014 com Luiz Guilherme de França Nobre Pinto, Diretor Financeiro da Eletros

Inicialmente o Presidente da APEL agradeceu e parabenizou o Diretor Financeiro da Eletros por sua iniciativa de contatar a Associação solicitando a cessão das dependências da APEL para discorrer sobre a atuação dele como diretor financeiro, conforme compromisso assumido quando da sua campanha para eleição.

Ressaltou ainda que, ao propor essa entrevista, o objetivo principal é o de alcançar a totalidade dos quase 1100 associados. Deixou claro, entretanto, que a APEL estará sempre pronta a recebê-lo.

Em resposta, o Diretor Luiz Guilherme agradeceu o apoio da APEL por ocasião da sua candidatura e disse que aguardava uma oportunidade para fazer o primeiro contato, quando então poderia apresentar já algum resultado. Propôs assim essa reunião se repita periodicamente.

Acrescentou que a sua atuação está inserida num processo colegiado de gestão e que existe um forte alinhamento entre os Diretores e o Conselho Deliberativo da Eletros consubstanciado na definição de um Planejamento Estratégico para a Fundação.

A Entrevista

    

1. O ano de 2013 foi financeiramente ruim para a Eletros e o começo de 2014 não mudou muito o quadro. Quais são as perspectivas para o resto do ano?

O ano de 2013 realmente não foi bom para a Eletros. O Plano BD apresentou um resultado negativo de 1,24%. O primeiro trimestre de 2014 também não foi favorável, conforme verificado no site da Eletros. Ressalte-se, entretanto, que até o mês de junho, os investimentos apresentam uma boa rentabilidade, com resultados extraordinários na renda fixa. Para o restante do ano podemos prever, dependendo do comportamento da renda variável, uma boa rentabilidade dos ativos.

2. Podemos pensar em superávit ou continuaremos tendo déficit? O que se espera do futuro?

Analisando o passado, podemos perceber que nos últimos dez anos a rentabilidade dos ativos foi excelente. Entretanto, em relação aos nossos compromissos, nesse mesmo período, muitos eventos acabaram prejudicando o seu comportamento. Como exemplo, podemos citar: a mudança da tábua atuarial; o adicional de aposentadoria; o aumento real da remuneração dos participantes (superior ao anteriormente informado pela patrocinadora) e outros. Para o futuro, não visualizamos grandes impactos nos nossos compromissos como os que ocorreram e salientamos que agora contamos com premissas atuariais mais adequadas, inclusive, com uma tábua de mortalidade mais aderente a nossa realidade.

3. Notícias nos jornais sobre o momento econômico do país e as previsões para o segundo semestre de 2014 e para o ano de 2015 não têm sido otimistas em relação ao PIB e ao controle da inflação; inclusive, fala-se que a taxa de juros (SELIC) não deverá aumentar. Visto isso, como a Eletros projeta sua política de investimentos?

Como se pode constatar no site da Eletros, com relação à sua política de investimentos, há uma expectativa de retorno acima da meta atuarial e a tendência é que continue nesse ritmo. Ressalte-se ainda que não há na Eletros a intenção de aumentar os investimentos em imóveis.

4. Em relação ao Plano BD, em que estágio encontra-se o equacionamento dos déficits referentes aos exercícios de 2012 e 2013?

O ano de 2012 apresentou superávit. Em 2013 houve um déficit de R$ 204 milhões. Para equacionamento deste déficit se faz necessário à elaboração de um Plano de Equacionamento. Este Plano deve ser elaborado pelo atuário contratado do Plano e apresentado às Patrocinadoras e aos Participantes no decorrer de 2014.

5. Ainda sobre o Plano BD, mais especificamente sobre as pensões, onde a Eletros identificou também déficit em 2013, e os assistidos já começaram a pagar uma complementação, qual a situação atual e quais as perspectivas para o ano de 2014?

A Eletros efetuou uma mudança de atuário do Plano BD há cerca de trinta dias. Após a concorrência da qual participaram as mais representativas empresas do setor, foi vencedora a Towers Watson, muito bem conceituada nacional e internacionalmente, para atuar como atuária do Plano BD. Essa empresa está fazendo uma avaliação do passivo e até agosto próximo deverá apresentar as suas primeiras conclusões, dentre elas, a metodologia a ser aplicada às pensões. Na época a Diretoria da APEL será chamada para acompanhar o andamento desses estudos.

6. O Edifício Mário Penna Bhering foi vendido? Por quanto? Como será aplicada essa quantia?

O processo de venda do imóvel foi iniciado em fevereiro de 2012. Após longo processo de venda, três propostas foram apresentadas e a proposta vencedora, em valor superior ao valor contábil, foi aceita por unanimidade dos comitês internos da Fundação e por nosso Conselho Deliberativo. O comprador tem sessenta dias para efetuar a análise da situação estrutural e documental do prédio (“due diligence”), para então concretizar o negócio. Assim que a venda for concretizada divulgaremos todos os detalhes da operação.

7. Sobre o empréstimo financeiro, duas questões se apresentam: a redução do valor do IOF pago quando da renovação e a abertura para concessão aos participantes da EPE e da Ceron. Qual a situação atual?

Essa redução depende de alteração do sistema computacional da Eletros. Atualmente o participante do Plano CD e BD Eletrobrás tem direito a um empréstimo de até doze remunerações, com prestações que chegam a 15% da remuneração. Segundo o sistema atual, quando o participante renova o valor do empréstimo ele necessita cancelar esse empréstimo e solicitar um novo para receber a diferença. Dessa forma, não há como não pagar o IOF total. Está em estudo uma nova sistemática de empréstimo em que o participante poderá fazer vários empréstimos, não pagando o IOF pelo valor total. Nesse novo formato, o empréstimo ficaria vinculado à remuneração apenas no início.

O desenvolvimento e a implantação do novo sistema poderão levar até um ano e meio já que esse aperfeiçoamento está ligado ao desenvolvimento e implantação de um sistema computacional mais amplo que abrangerá todos os outros setores da Eletros.

Já a concessão de empréstimo aos participantes de novos patrocinadores depende de uma norma específica. Após a implantação da norma, os empréstimos aos participantes da EPE poderão ser concedidos imediatamente, porém em um montante baixo já que a reserva do fundo ainda é pequena (a EPE ingressou na Eletros há cinco anos).

Em relação à Ceron, será necessário aguardar ainda cerca de um ano e meio, até que se constitua um fundo de valor suficientemente alto para possibilitar a concessão de empréstimos.

8. Sobre o Eletros Saúde, como está o processo de ampliação?

A situação do Eletros Saúde não é confortável, já que, do ponto de vista teórico, um plano de saúde, para se manter sustentável, necessita de no mínimo quarenta mil vidas.

Atualmente, o Eletros Saúde conta com sete mil e oitocentas vidas. Caso o número de beneficiários não cresça, a tendência é que haja aumento de custos, com a consequente diminuição do número de beneficiários, ameaçando o futuro do plano.

Para possibilitar o seu crescimento, é necessário que o Eletros Saúde seja segregado da Eletros, permitindo a adesão de novas empresas. Para isso, está sendo elaborado um novo estatuto que deverá ser submetido à PREVIC e à ANS. É importante que essa segregação ocorra até o final deste ano, para que possam ser incluídas algumas potenciais novas empresas.

9. O que tem sido feito para a redução das despesas administrativas da Eletros?

Os valores das despesas de 2014 já estão inferiores aos previstos no orçamento. Entretanto, essa redução é difícil de ser implementada, uma vez que grande parte das nossas despesas refere-se a despesas com pessoal. Foi ainda criado um grupo de trabalho para analisar os contratos em vigor, visando maior eficiência e redução de custos.

Pretendemos mudar o foco do orçamento para conscientizar todos os empregados da necessidade de redução dos custos operacionais.

Em relação à receita, procuramos aumentá-la através de aplicações de longo prazo - 2020, 2024, 2030 - que possibilitarão maior retorno. Além disso, estamos avaliando possíveis novos patrocinadores.

10. Qual o futuro do Plano BD, tendo em vista ser um plano em extinção, sem a adesão de novos participantes?

Excetuando-se o equacionamento do atual déficit, a Eletros não vê dificuldades relevantes para o futuro do Plano BD.

11. Existem candidatos a novos patrocinadores para a Eletros?

Visando evitar desperdício de tempo e de esforço, foi criado um grupo de estudos para analisar o mercado no sentido de verificar se existe ou não a possibilidade de adesão de novos patrocinadores. O fato de a Eletros ser muito bem conceituada deverá ajudar a atrair novos patrocinadores, o que consiste numa das suas metas estratégicas. Esses novos patrocinadores, inclusive, poderão vir de outros setores que não o de energia elétrica.

12. O que tem sido feito para a integração entre os participantes e as patrocinadoras e com os participantes da Ceron, do ONS e da EPE?

A Eletros tem procurado manter um constante diálogo com as patrocinadoras e os participantes, ouvindo suas demandas e visando sempre a maior transparência. A Eletros sabe que o participante, em resumo, é a razão de ser da Fundação.

13. Qual é a situação da FABES, considerando que não há novos ingressos de capital?

O que se observa atualmente é que não existe entrada de novos ingressos de capital, entretanto, o rendimento financeiro do fundo FABES é superior à sua utilização. Dessa forma, os recursos disponíveis continuam crescendo. Está em estudos a segregação total da FABES em relação à Eletros, inclusive com alteração da sua Governança, o que trará a FABES maior autonomia.

14. Existe ingerência política na Eletros?

Essa é uma preocupação constante. Podemos afirmar que nos últimos vinte anos não houve e nem há atualmente nenhuma ingerência política na Eletros, cabendo aqui um reconhecimento às nossas Patrocinadoras. Além disso, os comitês de investimento funcionam de forma exemplar, o processo decisório é respeitado e os órgãos de governança estão sempre atentos para impedir quaisquer tentativas que possam ocorrer. A blindagem é contínua e a APEL tem exercido um papel importante nesse aspecto.

15. Qual é a situação dos comitês?

Alguns comitês já estão funcionando, como o do ONS, os regimentos dos outros comitês já estão prontos e estes comitês não demorarão a ser instalados.

16. Qual é a situação do sistema integrado?

A Eletros não pretende contratar um “sistemão” a exemplo do que fez a Eletrobras com o Sistema SAP. Entretanto, existe uma proposta técnica suficientemente abrangente para cobrir as necessidades da Eletros. Já foram feitos contatos com empresas especializadas para tentar viabilizar a implantação do sistema o mais rapidamente possível. O sistema de empréstimos estará no bojo desse sistema maior.

    

Ao fim da entrevista, o Presidente da APEL agradeceu ao Diretor Luiz Guilherme, afirmando que a APEL ficara satisfeita com os esclarecimentos por ele prestados. Desejou, em nome de todos os associados, sucesso e reafirmou a intenção de manter um relacionamento harmônico entre a Eletros e a APEL.Com a palavra, o Diretor Luiz Guilherme agradeceu pela oportunidade e confirmou a sua intenção de manter o diálogo com a APEL, sempre pautado pela transparência.

Entrevistadores:
José Luiz Ramos Trinta – Presidente da APEL
Quirino Ponton Swensson – Diretor Financeiro da APEL
Fernando Antonio Lopes – Diretor da APEL
Colaboradora: Suzana Junqueira de Andrade Oliveira