Melchior Tavares de Alcântara
- Escrito por Melchior Tavares de Alcântara
Recentemente tivemos a interdição do túnel Rebouças pelos motivos que todos conhecem.
Seria oportuno lembrar porque o túnel foi batizado com este nome.
Rebouças, na verdade, era o sobrenome de dois irmãos, engenheiros (André e Antonio), mulatos alforriados, que tiveram destaque na segunda metade do século 19.
André Rebouças era muito chegado a Princesa Isabel, freqüentava as festas promovidas pela Corte Imperial etc.
Numa determinada festa a que compareceu, André tirou uma dama para dançar e esta recusou, com todas as características de discriminação. A Princesa Isabel viu ou tomou logo conhecimento do fato e imediatamente dirigiu-se a André e convidou-o para dançar, o que causou grande admiração dos presentes.
Após o banimento da família real, episódio que ocorreu no dia seguinte ao da Proclamação da República (16/11/1889), André ficou desgostoso com o que ele considerou uma injustiça. Resolveu então se auto-exilar, viajando para a Europa e mantendo sempre contato com a Princesa Isabel e seu marido Conde D'Eu para conservar os fortes laços da lembrança do Brasil. Sentindo-se cada vez mais deprimido, um belo dia o seu corpo foi encontrado no pé de uma elevação com todas as características de suicídio.
Em 1965, a história dos irmãos Rebouças foi levada ao conhecimento do então Governador Carlos Lacerda que resolveu batizar o túnel com os nomes de Antonio Rebouças (Galeria sul-norte) e André Rebouças (galeria norte-sul); o povo simplificou tudo para Túnel Rebouças.
- Escrito por Melchior Tavares de Alcântara
No ano de 1501, pouco depois da descoberta do Brasil, Portugal pouco sabia das terras, das quais, ele se julgava dono.
No sentido de garantir a posse e tomar conhecimento das terras conquistadas enviaram para estas bandas o genovês Américo Vespúcio.
Entre outras atividades este navegador recebeu a incumbência de reconhecer os principais acidentes geográficos das novas terras bem como dar nomes aos referidos acidentes.
Américo Vespúcio levou consigo um calendário litúrgico contendo os nomes dos santos de cada dia, elemento básico para nomear os diversos acidentes geográficos que fossem sendo encontrados.
Percorrendo a costa brasileira de Norte a Sul, Américo encontrou em 28 de agosto de 1501 no atual Rio Grande do Norte, um cabo que recebeu o nome de Santo Gostinho, o santo do dia.
Viajando para o sul, em 4 de outubro de 1501, foi avistada a foz de um grande e belíssimo rio. Consultado o calendário verificaram os navegadores que era o dia de S. Francisco de Assis. Então o rio ganhou o nome de S. Francisco.
Em 1º de novembro de 1501 entraram numa enorme baia, claro passou a chamar-se Baia de Todos os Santos, santo do dia.
Em 1º de janeiro de 1502 encontraram o que pensaram ser a foz de um rio, emoldurado por uma belíssima paisagem.
Neste dia os calendários não costumam lembrar nenhum santo, mas fazem referencia ‘a Circuncisão do Senhor.
Sendo Jesus judeu os homens desta religião logo após o nascimento, são circuncidados e com ele não foi diferente. E agora, chamar de rio da circuncisão não pegava bem. Pensaram em chamar rio 1º de janeiro, seria esquisito. Então Vespúcio resolveu simplificar para Rio de Janeiro, nome que se mantém até hoje.
No dia 6 de janeiro encontraram uma bela baia que preferiram chamar de angra. Neste dia(dia de reis) são homenageados os 3 reis magos(Melchior, Gaspar e Baltazar), que teriam sido os primeiros a adorar Jesus após seu nascimento.
Então a baia ou angra recebeu o nome de Angra dos Reis Magos, nome oficial da cidade.
Em 20/01/1502 foram encontradas algumas ilhas a maior delas, é claro recebeú o nome de ilha de S. Sebastião.
Após seu retorno a Portugal Américo Vespúcio, entre outras homenagens teve seu nome dado ao novo continente. A forma feminina é porque todos os demais continentes também o são, Europa, Ásia e África.
Quanto a Cristovam Colombo, o descobridor do novo continente em 1492, contentou-se em ter seu nome lembrado para denominar um país da America Central, a Colômbia.
Coisas da Historia.
- Escrito por Melchior Tavares de Alcântara
Histórias do Fim do Império.
No final da rua 1º de março quase chegando ao morro de S. Bento está localizado o prédio do antigo Ministério da Marinha. A praça que abriga este Ministério chama-se Barão de Ladario. Quem teria sido este Barão, teria algo a ver com o único imóvel que tem como endereço a praça Barão de Ladario? Vamos aos fatos históricos.
Em 1889 nas proximidades de 15 de novembro o Tenente-Coronel Benjamin Constant incentivou e participou do movimento militar que depôs o Regime Imperial, implantando-se então a República.
Em 10/11/1889 ao visitar o Mal. Deodoro que estava enfermo, ouviu deste as palavras "Benjamin, já que não há outro remédio, leve a breca a monarquia. Nada mais há a esperar dela, venha a república".
O último gabinete imperial de então era chefiado pelo Visconde de Ouro Preto que, consciente de que a situação política do regime estava por um fio, resolveu reunir seu ministério para uma tomada de decisões. Foi quando irrompeu pela sala o grupo militar cujo líder era o Ten. Cel. Benjamin Constant e deu voz de prisão a todos os componentes do Gabinete.
Daí, o então Ministro da Marinha, Barão de Ladario, levantou-se e disse aos brados: "Só recebo ordens do Imperador Pedro II".
Ouviram-se em seguida dois ou três tiros, disparados por atirador não identificado, que atingiram o Barão de Ladario. Socorrido a tempo, conseguiu sobreviver. O Barão de Ladario foi, portanto, a única vítima, no fato histórico que culminou com a Proclamação da República.
Informado dos fatos, o Imperador Pedro II veio de Petrópolis e tentou controlar a situação, oferecendo aos então revoltosos o nome do político Silveira Martins para chefiar um novo Gabinete.
Era tarde demais; o ato que implantou o novo regime foi redigido, publicado no D. Oficial e assinado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Foi constituído um governo provisório, chefiado pelo Mal. Deodoro da Fonseca, tendo como seu 1º Ministro da Guerra o Ten. Cel. Benjamin Constant.
Este militar foi o autor da inscrição na recém-criada bandeira brasileira da inscrição "Ordem e Progresso", de inspiração positivista e, segundo alguns, também maçônica, de quem Benjamin Constant era adepto.
A 1ª Constituição republicana, concluída em 1891, nas suas disposições transitórias, refere-se a Benjamin Constant como o fundador da República Brasileira. Por ato do Congresso, Benjamin, falecido em 1891, foi promovido "post mortem" a General de Brigada.
Esta notável figura de brasileiro tinha um especial carinho pelas crianças cegas e como reconhecimento, o instituto dos cegos, localizado na Urca, recebeu o seu nome.Um dos primeiros atos do governo provisório foi banir do território brasileiro a família imperial, que teve 24 horas para deixar o país. O decreto do banimento teve a assinatura do Mal. Deodoro, Quintino Bocaiúva, Ruy Barbosa e Benjamin Constant.
Somente no governo de Epitácio Pessoa (1919-1922), este decreto foi revogado e os restos mortais da família imperial puderam ser trasladados para o Brasil.
- Escrito por Melchior Tavares de Alcântara
Na zona sul do Rio de Janeiro, bairro do Leblon, três artérias importantes concorrem praticamente num ponto, a saber, Av. Delfim Moreira, Ruas Epitácio Pessoa e Afrânio de Melo Franco.
Tratando-se de três personagens da História do Brasil, haverá algum elo entre os três nomes citados?
Senão vejamos. Na eleição para Presidente da República de 1918, realizada em março do mesmo ano, foi eleito Rodrigues Alves (tendo como vice Delfim Moreira), que já exercera a presidência no período 1902-1906, tendo deixado uma marca importante na história da cidade (abertura da Av. Rio Branco, Av. Passos, Francisco Bicalho, entre outras).
Eis que antes da posse, que só se daria em 15/11/1918, Rodrigues Alves adoeceu com a epidemia que se espalhava praticamente por todo o mundo, a denominada "gripe espanhola", aparentemente um mal surgido na Europa logo após o final da chamada Grande Guerra (1914-1918), donde o nome.
O ministério de Rodrigues Alves já estava escolhido (a exemplo de Tancredo Neves em 1986). Chegou o dia da posse e este impossibilitado de assumir, a solução normal seria a assunção do vice. Só então os políticos se deram conta de que Delfim Moreira não estava bem de saúde; na realidade ele sofria das faculdades mentais. O que fazer?
Como todos esperavam que Rodrigues Alves logo pudesse assumir a presidência, resolveram ocultar a doença do Delfim e decidiram que o Ministro da Viação, Afrânio de Melo Franco, escolhido por Rodrigues Alves, tomaria conta dos assuntos presidenciais, cabendo a Delfim Moreira apenas apor a sua assinatura.
Assim foi feito, porém, após a posse de Delfim Moreira, Rodrigues Alves faleceu e, de acordo com a Constituição de 1891, deveria ser convocada nova eleição já que a vacância ocorrera na primeira metade do mandato.
Candidataram-se ao cargo Epitácio Pessoa e Ruy Barbosa. Este último defendia a tese de que Epitácio não teria condições de ocupar a presidência já que se aposentou por invalidez como Ministro do Supremo Tribunal. Sua tese não foi considerada e Ruy Barbosa foi derrotado na segunda e última tentativa (a primeira foi em 1910) de alcançar a presidência (Ruy viria a falecer em 1923). Epitácio Pessoa foi eleito para completar o período 1919-1922 (restante do mandato).
Um episódio marcante no período governado por Epitácio foi que ele escolheu para Ministro da Guerra um civil, o engenheiro João Pandiá Calógeras, cuja atuação como Ministro foi considerada excelente. Em homenagem a este, o centro do Rio ganhou a Av. Calógeras. Também a esposa de Epitácio, Mary Pessoa, foi homenageada com o seu nome em uma rua da Gávea.
Logo depois de deixar o cargo que estava exercendo, embora simbolicamente pelas razões apontadas, Delfim Moreira faleceu, sem dúvida pelo agravamento de seu estado precário de saúde.
Fica a pergunta. Será que o responsável pelo setor de nomenclatura de logradouros da cidade do Rio de Janeiro achou por bem brincar com a história, reunindo numa mesma área aqueles três personagens, Delfim Moreira, Afrânio de Melo Franco e Epitácio Pessoa? Ou foi simplesmente coincidência? Fica a critério de cada um opinar.
Nota: Algumas das informações aqui apresentadas foram obtidas junto ao neto de Epitácio Pessoa, colega de turma, na escola de engenharia, do autor destas linhas.
- Escrito por Melchior Tavares de Alcântara
No século 18 (por volta de 1763), a capital do Brasil Império mudou-se da Bahia (Salvador) para o Rio de janeiro. Nessa época, o Brasil, ainda ligado a Portugal, era um Vice-reinado, comandado naturalmente de Lisboa. O terceiro vice-rei do Brasil era o Marquês do Lavradio, cuja residência era um palacete, para os padrões da época, localizado na esquina das ruas do Lavradio ( homenagem ao próprio) e Relação (está de pé até hoje, virou museu). Para atender aos assuntos jurídicos de então, Portugal instalou na nova capital, Rio de Janeiro, o Tribunal da Relação, mesmo nome de seu congênere de Portugal, denominação esta que se mantém até hoje nesse país ibérico.
O Margues do Lavradio deixou uma lembrança na cidade, a implantação da “feira livre de impostos”, a pedido dos pequenos comerciantes locais. Hoje elas são chamadas simplesmente “feira livre”.
A rua onde se instalou o Tribunal da Relação por isto mesmo passou a se chamar da Relação, denominação que se mantém até hoje. Próximo a essa rua está a Rua do Senado, claro o senado de então ficava nesse logradouro.
É possível concluir que essa região era o centro político de então.
Curioso lembrar que antes de o Rio de Janeiro agasalhar o Tribunal da Relação, algum problema jurídico que, por qualquer razão, não pudesse ser levado à Corte (Bahia naturalmente), teria como alternativa a apreciação pela Igreja, onde despontava a figura do Bispo.Deste fato nasceu a expressão popular: ”Não está satisfeito, vá se queixar ao Bispo”.
A independência, ocorrida em 7 de setembro de 1822, só foi consolidada em 2 de julho de 1823(parece que só os baianos comemoram esta data), com a grande colaboração do Almirante Cochrane (por isso mesmo chamado de o Consolidador da Independência brasileira).
O Tribunal da Relação passou por várias denominações e hoje se chama Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, um belíssimo prédio localizado na Av. Presidente Antonio Carlos, centro da cidade. Já que estamos nos “por quês”, quem teria sido o Presidente Antonio Carlos, ele foi presidente de que?
Antes de 1930, quando a revolução trouxe ao poder a chamada Era Vargas, os estados brasileiros eram governados por “presidentes”. Então o Presidente Antonio Carlos era nada mais nada menos que o governador de Minas Gerais. No centro de Niterói temos a rua Pres. Backer, que foi governador do antigo Estado do Rio. Na Paraíba, o Presidente João Pessoa (sobrinho do Presidente da República Epitácio Pessoa), governador de seu estado, morreu assassinado numa casa comercial de Recife, um dos motivos que aceleraram a eclosão da revolução de 1930.
Como homenagem a seu Governador (ou Presidente), desaparecido na revolta de 1930, a capital da Paraíba, que até então também se chamava Paraíba, passou a se chamar João Pessoa.